Como alternativa à linha de caminho de ferro do Tua, que a EDP pretende destruir, esta até pode propor o transporte dos habitantes da região e dos turistas em balões de ar quente, transformando o Vale do Tua numa nova Capadoccia (Turquia) e dizer que se insere na sua política de responsabilidade social, à semelhança da campanha publicitária dos seus valores ambientais. Um cantor, uma empresa de audiovisuais, uma agência de informação da capital, uns quantos jornais, rádios, tv’s e salas de cinema, etc., foram já devidamente compensados pela intenção indirecta de destruição de uma linha ferroviária e de um património ambiental, histórico e humano, situado algures lá no Norte. Esta estratégia é da legítima e exclusiva responsabilidade da EDP, dos seus gestores e accionistas. Destrói-se lá para o Norte e compensam-se os meios artísticos cá da capital.
Mas, então, quem fiscaliza estes poderes não eleitos? Porque o problema do atentado patrimonial, ambiental e populacional é dos poderes públicos que não existem ou se omitem na defesa da causa e do interesse público, criando-se vazios de silêncios e omissões. Serão os autarcas do Tua os únicos responsáveis? E os outros, mais do Litoral Norte, ficam-se só pelo Aeroporto Francisco Sá Carneiro, porque o Tua já não é da sua responsabilidade, nem têm lá votantes seus? E os cidadãos desta Região Norte?
Todos nós na vida, sobretudo quem se envolve na defesa de causas que considera essenciais para a entrega de um mundo, pelo menos não pior, aos nossos descendentes, se confronta constantemente com a barreira do silêncio. Isto nem é exclusivo da vida pública ou cívica, há muitos que vagueiam pelos corredores dos silêncios, fazendo prevalecer o carácter dúbio de quem não assume os riscos de uma decisão.
Há uns meses, numa iniciativa da Associação de Cidadãos do Porto, propusemos a criação de uma plataforma denominada Rede Norte, com a intenção de juntar diferentes movimentos de cidadãos no apoio a causas cruzadas, tornando-as comuns, porque sentimos que só assim teríamos a força de sermos ouvidos. Esta acção viria também a dar origem ao “Movimento Norte Sim”, que convido a conhecerem em http://nortesim.blogspot.com/ e no facebook (Norte Sim).
A inexistência de um Organismo com poder sobre o seu território viabiliza estas actuações pautadas por uma extraordinária leveza quanto aos seus efeitos, moldando ambiente, ordenamento do território, recursos públicos e populações, sem a devida consideração de efeitos de sustentabilidade a longo prazo, fazendo tábua rasa de galardões e responsabilidades atribuídas pela Unesco, e acabaram por converter esta Região como uma das mais atrasadas da União Europeia. Acreditem, que não é coincidência este atraso ser acompanhado de uma destruição da rede capilar de caminhos de ferro que existia no Douro, Trás-os-Montes e Tâmega. As empresas públicas CP e Refer têm uma enorme responsabilidade na situação que vivemos, pelo que no âmbito do Norte Sim, propomos a criação de uma empresa regional de transportes ferroviários.
Os problemas de desenvolvimento no Norte só a nós, e à nossa incapacidade de agir solidariamente e unidos para a sua resolução, se devem. Aceito quem considere que as centenas de milhar de euros entregues pela EDP a uma meia dúzia de Câmaras seja melhor do que aquilo que hoje têm, mas é por inépcia e falta de propostas e projectos no passado. Mas também desconfio de soluções simples e preguiçosas. É possível ser a favor de algo mais fortemente impulsionador de desenvolvimento. Até pode suceder que uma melhor solução também tenha de assumir um passivo ambiental, como por exemplo o impacto da ligação de Bragança à estação de alta velocidade espanhola de Puebla Sanábria, por caminho de ferro, de forma a colocá-la como a cidade portuguesa mais próxima de Madrid – 1h50 - potenciando o desenvolvimento do nosso interior, que mais não é do que o meio da Península Ibérica. Este projecto terá um impacto mais estruturante do que o da construção de uma parede numa curvatura de um rio, despovoado, com isso destruindo a mobilidade e o potencial turístico e agrícola de uma sub-região, para gerar 0,5% da produção nacional de energia eléctrica nacional, que seria obtida de outra forma, por upgrades nas actualmente existentes.
Há tanto no País para fazer, se o pretexto é gerar despesa e financiamentos, como a reabilitação urbana. Mais grave, se o objectivo é entrar em jogos dos quais nunca se perde – como é o actual caso das concessionárias das ex-Sctu’s e Brisa que viram os seus modelos de negócio e contratos renegociados e proveitos aumentados à custa dos habitantes do Norte, porque o pior cenário será receber uma bruta indemnização pela não realização de um projecto, paga pelos nossos impostos, penalize-se quem levou o processo até estes limites.
Este meu texto tem andado à volta dos egos. Mas, também a este nível, é possível desenvolver outras acções e ambições de afirmações de egos, neste caso os das pessoas do Norte que já nem considerem a escala nacional ou local como relevantes, mas sim a regional.
Norte Sim, já!
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